Em várias regiões do Brasil onde o agro é o motor da economia, é comum ver aviões cruzando os céus das fazendas. Seja pra pulverizar lavouras, seja pra levar técnicos de um canto ao outro das propriedades, essas aeronaves viraram quase que parte da paisagem. Mas apesar de parecer rotina, esses voos carregam riscos — e quando alguma coisa foge do script, as consequências podem ser fatais.
Foi o que aconteceu na última terça-feira (1º), lá no município de Porto dos Gaúchos, interiorzão do Mato Grosso, a cerca de 640 quilômetros de Cuiabá. Um acidente envolvendo um avião agrícola e uma caminhonete terminou na morte trágica de um trabalhador rural.
A vítima era Vagner Willian de Oliveira, um homem de 33 anos que estava no banco traseiro do veículo no momento da batida. O impacto foi tão forte que ele não resistiu aos ferimentos. O veículo trafegava por uma estrada de terra, paralela à pista de onde o avião decolava. E foi aí que tudo aconteceu.
Segundo o relato do piloto à Polícia Militar, tudo tava correndo dentro do previsto. A aeronave tinha como destino a cidade de Sorriso, onde passaria por manutenção — o que também mostra que não se tratava de uma operação agrícola no momento, e sim de um deslocamento técnico. Só que, de repente, uma rajada de vento inesperada desviou o curso do avião.
Com esse deslocamento lateral, o avião acabou atingindo a caminhonete pela lateral. O piloto contou que não viu o veículo na hora — só percebeu que algo estava errado quando sentiu um tranco e notou o impacto com uma estrutura por baixo da aeronave. Os outros dois funcionários que estavam na caminhonete conseguiram sair sozinhos. Eles tavam conscientes e, segundo disseram à polícia, não ouviram aviso nenhum. Só escutaram um “estrondo” no teto do carro.
Logo depois do ocorrido, a área foi isolada e a perícia entrou em ação. A Polícia Civil agora investiga os detalhes do acidente. A princípio, tudo indica que foi uma infeliz coincidência entre o deslocamento inesperado da aeronave e a passagem da caminhonete no exato momento do desvio.
Mas esse tipo de tragédia levanta um alerta importante. Em ambientes rurais, especialmente onde há pistas de pouso em meio à movimentação de veículos e trabalhadores, a segurança precisa ser levada mais a sério. Não basta só seguir o básico. É essencial ter sinalização adequada, comunicação clara entre as equipes, monitoramento constante do clima e, sempre que possível, restringir o tráfego terrestre durante decolagens e pousos.
O caso de Vagner, infelizmente, não é isolado. Em 2023, segundo dados da ANAC, aumentou o número de ocorrências envolvendo aeronaves agrícolas no Brasil. Muitos dos acidentes têm como pano de fundo falhas de comunicação, descuidos operacionais ou, como nesse caso, interferência climática súbita.
É triste ver um trabalhador perder a vida assim, num cenário onde talvez, com mais organização, isso poderia ter sido evitado. Fica o apelo: o agro precisa ser produtivo, sim, mas também precisa ser seguro pra todo mundo que tá ali, de sol a sol, fazendo a engrenagem girar.