Jovem tem cabelo associado à vassoura após divulgar vídeo bem-humorado defendendo que ‘cachos não dão trabalho’

Depois de filmar um vídeo com um jogo de palavras engraçado dizendo “cabelo cacheado não dá trabalho” e mostrando sua carteira profissional sem se registrar para o emprego, a analista de sistemas e tik tok Olívia Lorena, de 23 anos, recebeu uma avalanche de preconceitos contra seu cabelo. Por trás dos insultos mascarados de opiniões, internautas até se associaram a uma vassoura e escreveram que os cachos de Olivia estão “muito bem uó”. O conteúdo foi postado na última terça-feira e repercutiu nas redes sociais ao longo da semana, destacando o racismo estético.

A ideia do vídeo surgiu depois que uma admiradora de Olívia comentou que queria deixar o cabelo natural, mas não podia porque “ondular dá muito trabalho”. No vídeo, um analista de sistemas lê um comentário e brinca: “Não sei quem inventou isso. Cabelo cacheado não funciona. Olhe para o meu, é muito encaracolado. E olhe para minha carteira, vazia.

No Tik Tok, o vídeo obteve mais de 183.000 curtidas e cerca de 3.800 comentários. Após ser insultada por dezenas de perfis, Olívia expressou que ficou chocada e declarações preconceituosas eram mais frequentes quando o cabelo estava solto.

“Eu ouço muito essa frase. Só tive essa ideia porque sempre leio ou ouço isso. Quando dizem que cabelo cacheado é difícil, acho que a pessoa pode estar copiando o que anda ouvindo”, relata analista de sistemas.

Racismo estético

Em entrevista ao GLOBO, a socióloga e antropóloga Larisse Pontes disse que piadas preconceituosas sobre cabelos afro poderiam ser descritas como racismo estético por não atenderem aos padrões europeus. Um pesquisador do tema e efeitos da transformação capilar em negros acredita que associações com, por exemplo, uma esponja de aço e uma vassoura, como foi o caso de Olívia, são uma forma de confirmar, entre os brancos, que a beleza negra é subordinada.

“A beleza é algo que os negros sempre negaram. Não há liberdade para expressar o preto da maneira que você quiser. Para uma mulher negra conseguir um emprego, ela precisa alisar o cabelo; os homens têm que se barbear”, enfatiza.

Transição capilar

Segundo Olívia, que diariamente produz vídeos para o Tik Tok e Instagram, preconceitos são comuns em sua vida: Tanto na internet quanto na própria família. Todos os comentários sobre a estética de seu cabelo a fizeram alisar o cabelo aos 12 anos. Livre de química aos 16 anos, a moça acredita que os preconceitos surgem especialmente porque ela não gosta de definir seus cachos.

“Durante a transição, meu melhor amigo não gostou e disse ‘prefiro a simplicidade’, mas sempre me importei mais com o que pensava. Os caras que já me seguem costumam me elogiar. Mas quando um vídeo se torna viral e chega a novas pessoas, surgem comentários que perguntam algo. Que trabalho eu uso para quais produtos. Às vezes me sinto desconfortável com perguntas como “você pode desembaraçar isso?” Porque dá a impressão de que esse é um tipo de cabelo muito diferente e exótico, diz ela.

Todos os comentários preconceituosos foram feitos pela jovem em redes sociais relevantes. Ele não vai denunciar à polícia.